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A dificuldade do homem em demonstrar sentimentos

Na infância ouvirmos dos pais e dos mais velhos que “homem não chora”. Embora esse ensinamento fortaleça o homem e o ensine a ser mais decidido e a suportar os problemas, também o motiva a ser mais fechado e a não buscar ajuda. O orgulho masculino tem origem nesses ensinamentos?

Durante muito tempo o homem foi educado para exercer o poder, a autoridade e o domínio. Esperava-se que ele fosse o protetor e alicerce de toda a família, na medida em que à sua figura estarem associadas o domínio financeiro e a autoridade moral que definia o destino dos filhos e esposa, impondo regras através das quais a família era conduzida.

Educou-se o homem para definir, decidir e suportar os problemas advindos de suas decisões, escolhas e comportamentos, fossem quais fossem estes resultados ele deveria estar ali impassível para recolhê-los positivos ou negativos, felizes ou infelizes.

Durante muito tempo a alma do homem foi esquecida para a formação de seu caráter, alguns quesitos eram importantes como ser ativo, trabalhador, decidido, patriota corajoso, forte. Esqueceram que no interior deste homem uma alma aflita poderia ser invadida por sentimentos, sensações e intuições.

Esperava-se que a aparência fosse exatamente como a essência, objetiva, seletiva, organizada, prática e resistente. Resistência que pagou um preço muito alto para ser expressa.

O convívio com os familiares era restrito às obediências devidas. O respeito exagerado pela figura masculina gerou distanciamento e endurecimento. Os verbos amar, acariciar, chorar e desesperar eram respostas de ação das mulheres. O universo feminino sentia enquanto o universo masculino decidia.

É claro que desvinculado do afeto o orgulho surgiria, mas, mais do que orgulho observou-se no homem uma imensa dificuldade em lidar com seus sentimentos e, sobretudo, em expor-los. Afinal sentir.

Quando a esposa percebe que o marido esta passando por problemas, como ela pode incentivar o homem a mudar e a buscar ajuda, sem criar situações desconfortáveis? Quais seriam as melhores estratégias?

A relação marido-mulher deve ser permeada por atitudes de carinho, cuidado de expressões afetivas. O casal precisa cuidar para que haja uma profunda intimidade entre os dois, e que o espírito desta intimidade seja alimentado pelo amor e respeito existente entre eles.

O diálogo é o instrumento que fortalece as relações, pode-se e deve-se falar sobre tudo, sobre a força e a fragilidade, sobre aquilo que deve ser conduzido com subjetividade. É preciso criar um espaço de liberdade intima dentro do qual todas as polaridades possam ser expressas e discutidas.

A mulher em função de sua própria natureza é capaz de perceber com maior facilidade as dificuldades enfrentadas pelo homem, e é exatamente usando esta sensibilidade que ela pode trazer para o espaço da intimidade do casal questões delicadas que devem ser discutidas com cuidado e respeito. O melhor instrumento é o dialogo, e talvez uma das melhores formas de abordar uma questão criando um espaço para que o marido possa também expressar-se sobre como se sente e percebe a situação.

Se o melhor instrumento é o dialogo, eu diria que a melhor forma de abordar a questão é doce e suavemente, permeando a fala com gestos afetivos, acariciar o cabelo, segurar suavemente as mãos suscitam confiança, e confiança é a base para que possamos nos entregar ao outro, falando de suas dores, males e amores.

Como educar os filhos para que eles sejam mais maduros e mais abertos ao dialogo?

A educação dos filhos deve ser feita de forma madura, segura e afetiva.

O casal deve passar para os filhos a ideia e sensação de respeito, amor e confiança que permeia a relação conjugal.

Crianças saudáveis são resultado de uma educação cooperativa onde o casal divide tanto as responsabilidades pelo respeito às normas e regras familiares e sociais, quanto o provimento afetivo dos filhos.

É preciso que o casal proporcione ao filho momentos lúdicos quando a criança pode expressar sua criatividade e sensibilidade, falando dos sentimentos.

É preciso ensinar que amar é uma construção importante na vida do ser humano e que só através do amor nas suas diferentes formas de expressão nos sentiremos satisfeitos e realizados em nossa vida porque a auto-estima, a criatividade, a iniciativa e a segurança nascem do sentimento, de amar que conseguimos nutrir por nos mesmos.

Dra. Lourdes de Paula Gomes, diretora da FACIS,  é psicóloga e especialista em Psicologia Clínica, Ludoterapia e Psicodrama Pedagógico pela USP.

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