Alerta sobre o hábito de ingestão do Açaí
Do 20º Congresso Brasileiro de Infectologia, aonde foi apresentado um trabalho pela Dra. Maria Aparecida S. Yasuda, da USP, vem o alerta sobre o hábito de ingestão do Açaí. Embora o Brasil tenha reduzido drasticamente o número de casos novos da doença, (eram 150000 casos novos ano em 1970) esses ainda acontecem e em 2015 a estimativa era de 1,5 a 3,4 milhões de casos de pessoas infectadas no Brasil. Grande parte desses casos é por ingestão. Do caldo de cana, mas principalmente do Açai é que acontecem essas contaminações por via oral.
Muito consumido, principalmente por jovens, esse fruto originário da região Amazônica é um alimento funcional, de alto valor energético. Na composição da sua polpa estão presentes grandes quantidades de gorduras Omega 6 e 9, carboidratos, fibras, vitamina E, proteínas, minerais (ferro, zinco) e de substâncias antioxidantes. No conjunto o açaí, além dessas qualidades acima tem ação anti inflamatória, estimulante do sistema imunológico, regulador das gorduras no sangue, auxiliar no controle do diabetes tipo 2, na síndrome metabólica, no câncer e no envelhecimento.
Ao lado de todas essas vantagens o açaí trás um risco potencial grande da contaminação pelo Trypanossoma cruzi, o agente causal da doença de Chagas. No trabalho apresentado no 20º Congresso Brasileiro de Infectologia é reportado que 150 casos novos/ano dessa doença acontecem no Brasil e a maior parte tem como forma de contaminação a ingestão de açaí. O inseto barbeiro, ou sua fezes contaminadas podem estar presentes na massa do açaí e desencadeiam um quadro clínico muito grave de Doença de Chagas Agudo (vermelho pelo corpo, aumento dos gânglios, baço, fígado, doença muito grave do coração, hemorragias e icterícia). A pasteurização da massa do açaí ( aquecimento, resfriamento rápido) e o congelamento não se mostraram eficazes na prevenção da transmissão da doença. Já o aquecimento da polpa do açaí a 43ºC por 20 minutos mostrou em pesquisa ser eficaz. É bom lembrar que no Chagas agudo existe o risco de transmissão pelo leite materno. A gestante e a mulher que está amamentando devem se abster de ingerir alimentos de risco, como o Açaí.
A Doença de Chagas é uma doença grave com mortalidade de 8 a 9 casos por cada 100.000 mil habitantes e representa uma das principais causas de morte por doença infecciosa no Brasil (quarta colocada com 10,8%).
Portanto é interessante que as pessoas cuidem de observar esses riscos no momento em que estão ingerindo açaí.
Dr. Evandro Roberto Baldacci
Livre Docente USP
Coordenador dos Cursos de Pediatria da FACIS