O processo da autofagia das nossas células é conhecido já há algum tempo e é certo que sem ele teríamos sérios problemas de viver.
Mas o que significa a autofagia?
Olhando para a célula observa-se uma intensa atividade em seu interior, para a produção de substâncias necessárias à sua sobrevivência. É de se entender que nos 70 trilhões de células que compõem o corpo de um homem de 70 anos, erros na produção dessa substância devam ocorrer.
Há, ainda, a necessidade de se eliminar os restos materiais do metabolismo da célula, essencial para a sua sobrevida.
Assim, a autofagia acontece dentro das células para eliminar os restos do metabolismo, prolongando a vida da célula sadia, beneficiando o nosso corpo e, ainda, eliminando as substâncias produzidas erroneamente pela célula que, se persistirem dentro dela, induz a ocorrência de doenças.
No Alzheimer e Parkinson, por exemplo, são produzidas proteínas anômalas dentro das células do sistema nervoso que levam à doença.
As descobertas do professor japonês Yoshinori Ohsumi, que lhe renderam o Prêmio Nobel em Medicina de 2016, passam pela descrição de como esse processo de autofagia acontece. Seus estudos permitiram identificar 15 genes relacionados a esse processo e, também, concluir que alguns fatores – como baixa de oferta energética para a célula – podem desencadear a autofagia celular.
Essas observações abrem um campo de estudo fantástico para o controle das doenças que são desencadeadas por erros no seu metabolismo.
Assim, ativando-se a autofagia celular torna-se possível controlar doenças crônicas, como Alzheimer, Parkinson, diabetes e muitas outras. De outro lado, inibindo a autofagia celular seria possível encurtar o tempo de vida das células cancerosas, que assim o são por produzirem substâncias anômalas em seu interior.
Trata-se de um conhecimento de suma importância, o que nos explica muito do que observamos na saúde e na doença.
(*) Prof. Dr. Evandro Roberto Baldacci, livre-docente da FMUSP e coordenador pedagógico da FACIS