Cuidados pediátricos em relação a dengue
Os bebês são mais suscetíveis a pegar dengue? Por quê?
A principal forma de transmissão ocorre através da picada da fêmea do gênero Aedes, infectada com o vírus da dengue, com o objetivo de maturação dos seus ovos. Isso faz com que indivíduos suscetíveis à picada do mosquito estejam suscetíveis à contaminação pelo vírus, sem distinção por idade ou sexo. Nos bebês a chance de hospitalização e de Dengue Hemorrágica na primeira contaminação é maior.
Como/quais são os sintomas da dengue clássica nos bebês?
A dengue na criança pode ser assintomática ou apresentar-se como uma síndrome viral, com sinais e sintomas inespecíficos: febre, mal-estar, sonolência e prostração, recusa da alimentação e de líquidos, vômitos e diarréia, aparecimento de manchas vermelhas pelo corpo, prurido na pele, dor de cabeça, dores no corpo e nas articulações.
Nos menores de dois anos de idade, especialmente em menores de seis meses, esses sintomas podem manifestar-se por choro persistente, febre, adinamia e irritabilidade, mas geralmente sem as manifestações respiratórias comuns nas gripes e resfriados, podendo ser confundidos com outros quadros infecciosos febris, próprios da faixa etária. Na dengue clássica não são comuns manifestações hemorrágicas.
E da dengue hemorrágica?
As manifestações da dengue hemorrágica acontecem geralmente após reinfecções com dengue, mas podem ocorrer após infecções primárias, especialmente em lactentes, devido sua imunidade responder de forma diferente do que de crianças maiores e adultos.
A Dengue hemorrágica também se manifesta com febre alta e pode ter sintomas idênticos à Dengue clássica.
As manifestações hemorrágicas podem se apresentar de diferentes formas, como manchas vermelhas pelo corpo, facilidade na formação de hematomas, sangramento de mucosas (gengivas, nasal, vagina, aparelho digestivo, vias urinárias). A pressão arterial pode ser afetada, com hipotensão, e órgãos como fígado e baço também podem ser atingidos, aumentando de tamanho.
Os sintomas ou a gravidade de ambas mudam de acordo com a idade do bebê?
Sim, no recém-nascido e em bebês menores de 2 anos a apresentação da doença pode ser mais grave, devido à resposta imunológica imatura.
Como é o tratamento da dengue (clássica e hemorrágica) nos bebês?
É importante o acompanhamento constante e a vigilância dos pacientes. O tratamento consiste em amenizar os sintomas, com a reidratação oral ou intravenosa, repouso e monitoramento das condições do sangue, com internação hospitalar se necessário.
É possível transmitir dengue para o feto, se a grávida pegar dengue?
Sim, é possível. Alguns relatos recentes evidenciaram que se a mulher estiver infectada com o vírus da dengue perto do período do nascimento do bebê, a criança poderá nascer infectada ou adquirir a doença no momento do parto, mas, na maioria dos casos, é pouco frequente.
Já o aleitamento materno deve ser estimulado, mesmo com a confirmação da doença, pois o vírus da dengue não é transmitido pelo leite materno.
Quais são os riscos para uma mulher grávida se ela pegar dengue?
Existe o risco de aborto no primeiro trimestre de gestação e também o risco de trabalho de parto prematuro. Em mulheres que contraíram dengue na gravidez existe uma maior incidência de baixo peso do bebê ao nascer.
Pode também ocorrer hemorragia tanto em casos de abortamento, quanto por ocasião do parto e do pós-parto, principalmente quando os mesmos ocorrem na vigência da infecção materna.
Se o bebê pegar dengue uma vez, ele fica imune? Ou mais resistente à doença?
A infecção por um dos sorotipos do vírus do dengue confere imunidade somente para aquele sorotipo específico. Existem quatro vírus diferentes da dengue. A infecção causada por um tipo não imuniza para a doença causada pelos outros. Teoricamente, os indivíduos podem ser infectados pelos quatro sorotipos. A reinfecção aumenta as chances de Dengue Hemorrágica.
Como proteger o bebê da dengue? (ex: roupas próprias para isso, tela no berço, repelentes próprios, etc.)
É muito importante eliminar os locais que sirvam de criadouros do Aedes aegypti, evitando acúmulo de água parada perto de casa e local de trabalho.
No geral, o uso de repelentes na forma de vaporizadores elétricos é recomendado, além de telas de proteção e mosquiteiros em casa. Tome cuidado com sprays de veneno para insetos, pois substâncias nocivas podem ser inaladas e ainda afetar a pele, causando alergias e problemas respiratórios, evite o uso no ambiente em que a criança estiver.
O uso de telas e mosquiteiros em casa é altamente recomendado. Verifique se a tela está bem fechada e lave sempre o mosquiteiro para evitar acúmulo de pó.
Existem também telas específicas para carrinhos de bebês e para berços que podem ser utilizadas.
O uso de repelentes tópicos só é recomendado a partir dos seis meses de idade, isso vale também para os repelentes ditos naturais, como os a base de citronela. Esteja sempre atenta à composição química do produto, leve em consideração a credibilidade da marca e consulte o pediatra antes de aplicar cremes ou loções no bebê.
O uso de calças e meias pode evitar a picada do mosquito, assim como o uso de camisas de mangas compridas, principalmente para bebês. Dê preferência para tecidos leves e claros, devido ao calor do verão.
Evite viagens para áreas que estejam com muitos casos de dengue.
Pode passar repelente em recém-nascido? A partir de quando pode passar?
Não é recomendado o uso de repelente em recém-nascidos. A pele dos bebês é extremamente fina e delicada, mais susceptível a alergias e reações, além de permitir uma maior absorção do produto, podendo causar intoxicação.
O ideal é a partir dos seis meses de idade.
Repelente realmente resolve?
Existem estudos realizados para avaliar a eficácia dos repelentes, principalmente em áreas co muitos insetos, como a Amazônia, que mostram algum benefício. Porém, maiores estudos devem ser realizados para comprovar eficiência, concentração ideal e segura das substâncias repelentes na fórmula, e durabilidade.
Drª. Renata de Castro
Pediatra e Diretora da FACIS